A Câmara do Porto encetou este ano, e bem, uma grande promoção das festividades de São João na cidade, apostando na divulgação das actividades quer na região quer no país, embora maioritariamente através da Comunicação Social, aproveitando o mediatismo do Presidente da Câmara. O que é bastante útil, já que foi publicidade gratuita. 

No que concerne às acções directas de promoção apenas foram perceptíveis os habituais cartazes espalhados pelos suportes de informação da Câmara. Ao que consegui ver e apurar a promoção directa para o turismo interno e externo foi pouco ambiciosa, algo que com certeza será uma aposta no próximo ano.

Organizou também um conjunto de concertos de grande escala na Av. dos Aliados, que contaram com a participação dos Azeitonas (dia 20), GNR (21), Ana Moura (22), e Fernando Alvim (23) seguido de Bob Sinclair (madrugada de 24). Concertos gratuitos, de um cariz mais pop ao qual escapa o fado de Ana Moura.

Passei como a maioria dos Portuenses, a noite de São João com amigos e família, num momento bastante agradável (como espero que também tenha sido o vosso). Caminhando depois em grupo pelas ruas da cidade.

Tive oportunidade de ver o concerto de Bob Sinclair e depois caminhar até à Ribeira, e devo dizer-vos que não fiquei satisfeito com a experiência. Nos Aliados muito álcool, muita falta de civismo, ambulâncias em alta velocidade de um lado para o outro, homens a urinar nos mais variados locais, muitas pessoas a vomitar onde conseguissem. Na Rua das Flores, por onde desci, autênticos rios de urina. Foram momentos em que se praticou o beber por beber. Não o celebrar da cultura da cidade.

Provavelmente iremos publicar uma ideia para a instalação de zonas com casas de banho portáteis.

Os cafés abertos tinham filas enormes para os lavatórios, alguns chegando a cobrar pelo acesso. Provavelmente iremos publicar uma ideia para a instalação de zonas com casas de banho portáteis em futuras edições. Os bares ao longo do caminho tinham estruturas na rua onde vendiam Vodkas e Caipirinhas e davam música a quem passasse: Brasileiras e o Pop em Inglês. Não vi publicitado o nosso incrível Vinho do Porto nos diversos bares, nem ouvi música Portuguesa desde o momento em que cheguei aos Aliados. 

Vi alguns Polícias sem paciência para bêbados a tratar tudo por igual. Não assisti, mas 3 indivíduos foram esfaqueados durante a noite e 3 polícias foram agredidos.

Era como se estivesse numa das noites da Queima das Fitas.

Era como se estivesse  numa das noites do recinto da Queima das Fitas. E é a melhor metáfora que encontro para explicar o que foi a última noite de São João pela zona dos Aliados – Ribeira.

Não existiu a preocupação de mostrar a quem estava nas ruas a cultura do Porto e do São João, a sua beleza e características próprias. 

Caso fosse um turista, que não teve a possibilidade de jantar num dos barcos rabelos ou restaurantes, e simplesmente andasse pelas ruas, provavelmente não ia ficar impressionado, nem iria considerar o São João diferente a qualquer outra festa de rua. Se amigos me pedissem uma recomendação de viagem que incluísse uma festa popular será que lhes recomendava o São João? Em vez de festas com uma beleza visual própria e tradições muitos mais vincadas e celebradas? Como San Fermin (Pamplona, onde fazem a famosa corrida de touros), a Tomatina (Buñol) ou Il Palio (Siena) e muitos outros exemplos..

Não consegui contactar com os grandes elementos da cultura Portuguesa.

Não consegui no auge da festa mais tradicional do Porto, contactar com as suas grandes marcas e com os grandes elementos da cultura Portuguesa. Se queremos exportar as Festividades de São João para fora, mas também manter vivas as nossas tradições e cultura, temos de zelar por aquilo que é nosso e que faz o São João único, enquanto festa do povo, dos amigos e das famílias.

 Mais orgulho naquilo que forma a nossa cultura, privilegiando os produtos tradicionais portugueses.

Mas uma ressalva tem de ser feita, se tivesse ido para um bairro tradicional, para as Fontainhas por exemplo, provavelmente conseguia ter a experiência genuína, mas isso tem de ser replicado por toda a cidade.

Eu acredito que podemos chegar a esse nível, mas temos de melhorar a organização, ter mais orgulho naquilo que forma a nossa cultura, e privilegiar também na rua os produtos tradicionais portugueses, quer sejam bebidas, música ou até comida. Em vez de importarmos e servirmos o que vem de fora.

É uma iniciativa que tem de partir de cada um de nós, mas o exemplo deve vir de cima. Deixo a sugestão: para o ano que seja um artista Português a fechar os concertos nos Aliados. 

 

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