No Porto, cidade que cultiva as letras e os saberes, espantamo-nos como é que só existem duas Bibliotecas Municipais na cidade: a Biblioteca Pública (BPMP), no Jardim de São Lázaro, e a Biblioteca Almeida Garrett (BMAG), nos jardins do Palácio de Cristal[1]. Uma Biblioteca, nos dias de hoje, é – para além de um sítio de consulta ou requisição de livros – um local para consulta e leitura de jornais, para consulta de Internet, para estudar e investigar, ou até um local de encontro e de eventos dos mais novos aos mais velhos. Implementar mais Bibliotecas Municipais, ou fazer extensões das duas, em locais longe do centro, pode levar cultura a mais leitores e também retirar alguma lotação das duas Bibliotecas existentes, principalmente em épocas de exames.

Breve caracterização das duas Bibliotecas Municipais:

As duas Bibliotecas Públicas do Porto (entende-se públicas as de acesso a todos os públicos, que não fazem parte de instituições escolares públicas ou privadas) enfrentam neste momento um problema de sobrelotação, pelo menos em certas alturas do ano. Basta entrar numa altura de exames do ensino superior (Janeiro/Fevereiro e Junho/Julho) na BMAG, numa hora qualquer, para perceber que o espaço é pouco para tanta procura. Além disso, um leitor não estudante, que queira ficar pela Biblioteca a ler um pouco, tem a dificuldade de encontrar um lugar para se sentar. Em relação à BPMP, pelo edifício antigo onde se encontra (um antigo convento) esta não tem grande espaço por onde crescer. Apesar das suas características únicas, a sala de leitura maior destina-se a investigação e não a uma leitura calma, e a sala de consulta aberta (espaço onde o leitor pode ficar a ler ou requisitar livros ou jornais, e consultar a Internet) é muito pequena.

 

Porquê novas bibliotecas?

Com a criação de novas Bibliotecas aproximava-se aos leitores de toda a cidade um serviço que deve ser universal. De facto, as duas bibliotecas, apesar de bem localizadas (têm perto transportes e boas vias de comunicação) para uma grande parte dos cidadãos portuenses, um pouco longe, mais concretamente da parte ocidental. Exemplo concreto: em nenhuma parte da zona da Foz existe uma Biblioteca, e a que existe é a da Fundação de Serralves.

Com a existência de Bibliotecas noutras freguesias, permitia-se a uma maior parte da população portuense aceder a um local de cultura e lazer destinado a todos. Os mais novos teriam acesso a um importante espaço de educação e lazer, onde as leituras, complementadas com outras actividades, permitiriam uma mais-valia à sua formação e desenvolvimento. Já para os adultos, as bibliotecas permitiriam um espaço onde pudessem aceder a informação de uma forma gratuita.

 

 

Que espaços e que tipo de espaços

Consideramos que as novas Bibliotecas propostas no Porto deveriam ter uma dimensão inferior à BPMP e à BMAG, de modo a tornar estas um espaço mais íntimo e acolhedor. A sua implementação poderia ser em espaços de juntas de freguesia, ou de equipamentos públicos que já não estão em utilização, sendo necessário fazer uma investigação mais profunda sobre os edifícios municipais devolutos de momento. Mas um exemplo, numa freguesia tão cara ao Ideias à Moda do Porto, pode ser dado: instalar uma Biblioteca em Campanhã, no edifício que se encontra no Parque de São Roque, junto à entrada pela Rua de São Roque da Lameira. Segundo informação não confirmada, até 2009 aí funcionou o Gabinete de Urbanismo e Planeamento da Câmara Municipal do Porto (CMP). Ora, e como se pode ver presencialmente ou em fotografias, estamos perante um edifício histórico e de grande valor patrimonial que necessita de reabilitação. Colocar aí uma Biblioteca, que servisse a zona de Campanhã, seria um projeto certamente a considerar. Realce-se, a favor deste projeto, que está longe das duas outras Bibliotecas, não havendo, por isso, “concorrência” (ou seja, a ideia de proximidade). Depois, as duas Bibliotecas públicas certamente terão bastantes livros em depósito que podem ceder a esta e outras bibliotecas, para além de se poder apelar a quem queira oferecer livros para o fazer. Reabilitava-se, assim, um edifício que merece pertencer à cidade e aos cidadãos e criava-se, também, uma estrutura que ajudasse a valorizar Campanhã.

No entanto, não é apenas a zona de Campanhã que deve ser servida com uma nova Biblioteca. Áreas também populosas e longe das duas Bibliotecas Municipais, como a zona do Viso/Ramalde, para além da Foz acima mencionada, poderiam dispôr de um espaço nos mesmos moldes dos que até agora têm sido defendidos. Além disso, e tal como em Campanhã, as zonas poente da cidade são zonas por vezes problemáticas, com jovens que podem nas Bibliotecas ter uma oportunidade para uma melhor integração social.

 

Melhorar o que já existe:

Questão que pode ser discutida neste ideia é aumentar a BPMP. Em termos espaciais, esta ideia pode ser impossível (há que estudar a planta da Biblioteca) já que, apesar da sua monumentalidade, ela pode estar cheia com os arquivos (com um fundo construído durante quase duas centenas de anos), para além de, por ser um edifício classificado, ser improvável aprovarem-se grandes mudanças na sua estrutura. Uma hipótese a colocar é o uso de parte do edifício da Junta de Freguesia do Bonfim (edifício grande, mas com apenas três salas e o salão nobre em uso) para extensão da BPMP, por exemplo com uma sala de leitura aberta.

 

Exemplos no Norte:

Nos concelhos limítrofes do Porto encontram-se algumas boas Bibliotecas que, em certo sentido, também podem servir a população do Porto, mas que estão fora, pelo motivo óbvio de pertencerem a outro concelho, da rede de Bibliotecas Públicas do Porto. Atravessando o rio Douro, encontramos extremamente bem localizada a Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia: perto da estação de Metro Dom João II, na Linha D. Esta proximidade ao Metro e a outros meios de transporte permite que este espaço possa ser utilizado não só por gaienses mas também por portuenses.

Já mais a norte, outra Biblioteca relativamente próxima do Porto é a Florbela Espanca, em Matosinhos. No entanto, estando também localizada perto do Metro e de várias paragens de autocarro, refira-se que a zona da cidade do Porto que melhor pode servir é a da Foz. Além disso, também não está em rede com as Bibliotecas do Porto.

Outras Bibliotecas de relevo, outros concelhos limítrofes do Porto, são as da Maia e Gondomar. No entanto, a localização destas já não está tão próxima do centro da Invicta como as duas outras atrás mencionadas.

 

Exemplos em Portugal:

É certo que Lisboa, em termos populacionais e de área, é maior que o Porto. Mas isso não justifica a desproporção de Bibliotecas municipais comparando as duas cidades: dezassete para duas! Espalhadas pelas capital, sendo algumas delas especializadas (caso da Biblioteca dos Olivais, a Bedeteca de Lisboa), a Câmara Municipal de Lisboa (CML) aposta forte nestes “espaços de acesso à informação e ao conhecimento”. Ou seja, os lisboetas têm sempre perto de si um espaço destes. E não precisamos de ir tão longe, e podemos dar um exemplo “ao contrário”: Braga é mais pequena que o Porto e tem menos habitantes. Mas tem tantas Bibliotecas Municipais como a Invicta.

Exemplos de “Nuestros Hermanos”:

Se dermos um salto para fora do país, a norte, encontramos uma cidade em muitas coisas parecida com o Porto, mas diferente no número de Bibliotecas: A Coruña. Segundo dados recentes, a cidade galega tem um número de habitantes semelhante ao do Porto e uma Universidade com menos estudantes. No entanto, o número de bibliotecas municipais é o triplo das do Porto, estando cada uma ligada a um bairro concreto.

 

Custos associados:

Esta ideia, a ser concretizada, tenderá a ter custos baixos pois não se pretende construir do zero, mas sim tentar usar ao máximo equipamentos municipais como espaço e fundos de reserva das bibliotecas e doações particulares.

 

Assim sendo, e porque nunca deverá ser demais a aposta na cultura e no incentivo à leitura e informação dos Portuenses, seria de todo recomendável o aumento do número de Bibliotecas na cidade!

[1]                                  http://bmp.cm-porto.pt/bibliotecas